
Como muitas crianças eu também desejei fazer parte da Liga da Justiça e salvar o mundo de todo o mal. Depois de querer ser noiva (que pra mim era uma profissão) eu acalentava o sonho de ser a Mulher Maravilha e mais do que obrigar o malfeitor a falar a verdade com o laço mágico ou voar naquele avião invisível, eu queria ter aqueles olhos azuis que em conjunto com os cabelos pretos davam a Diana Prince uma beleza ímpar. Tá bom que naquela época não se tinha assim tantas opções de escolha em matéria de super-heroínas. Aliás, ainda me pergunto porque até hoje elas ainda são minoria tendo em vista que hoje, mais do que nunca, a mulherada cumpre dupla jornada de trabalho e em alguns casos quem sabe até uma tripla jornada. Super-heroína, secretária e dona de casa dedicada que prepara o jantar, põe a roupinha pra lavar, ajuda os filhos nos deveres de casa, aparta as brigas, fica linda e perfumada pra quando o marido chegar, ouve pacientemente suas insatisfações, é capaz de compreender uma noite de sexo meia-bomba e tudo isso sem a ajuda da super nanny. Quem precisa de super babás?? E pensar que o Batman era barrigudo (quem viu a primeira versão há de concordar comigo) e ainda era montado na grana... hunf!! Mas voltando a questão "salvar o planeta", depois de crescida e consciente de que a escolha do meu papel na sociedade não me daria super poderes eu naturalmente passei a voltar minha atenção àquilo que me daria mais prazer em fazer, por assim dizer. Acabei por chegar a conclusão de que nenhuma das profissões de que tenho conhecimento me agradariam de todo. Nunca tive aquele brilho no olhar e tampouco suspirei me imaginando jornalista, advogada, professora, médica, bibliotecária (alguém sonha com isso??), relações públicas, atriz, desenhista, mãe-de-santo, escritora, etc.. Não, nada disso. O que sinto é um enorme prazer em observar e tentar entender o universo alheio. Me delicio observando cada pequeno detalhe de movimentos e me agrada tentar analisar e mostrar algum outro possível aspecto, lado, saída ou qualquer coisa do gênero pra quem estiver disposto a escutar uma segunda opinião. Me desligo do resto do mundo fazendo perguntas, testando paciência, vaidades, me sinto um radar captando informações e aguardo ansiosa por uma reação. Contudo, sou completamente avessa a julgamentos. Na verdade o que mais me encanta é a beleza na peculiaridade de cada um. Material pra isso nunca falta. Basta ter alguém por perto e um canal de comunicação aberto pra que minhas anteninhas entrem em ação. Há também outra coisa que me alegra muito nessa estória toda, mesmo isso não constando de nenhuma grade curricular, que é poder trabalhar meu senso de justiça e respeito a partir dessa observação da natureza do outro. Meu prazer não reside somente no contato com o universo alheio, mas na capacidade de absorver o que me é mostrado e entender isso sempre como uma grande lição. Há sempre uma troca. Seja pra um grande amigo ou pra um desconhecido, a atenção e o respeito dedicados são sempre os mesmos. Infelizmente a maioria de nós tende a crer que só se é possível extrair e descobrir coisas interessantes, belas e inteligentes de determinados "tipos". Tive a chance de trocar uma idéia com um mendigo certa vez. Eu ofereci bolo a ele e conversamos um pouco. O bem-estar em perceber nele a sensação de ser alguém visível é algo que não dá pra descrever. Me pergunto o quanto a mais nós ganharíamos em matéria de satisfação, capacidade de respeito e autoconhecimento não fosse nossa incrível inclinação pra conceituar de antemão tudo e todos como se fôssemos a experiência em pessoa. Ser preconceituoso é abster-se da possibilidade de enxergar tanta beleza quanto podemos imaginar. É como se permitir um só estilo musical, um só gênero de filme, uma só cor, uma idéia apenas. Ter ciência da capacidade que temos de poder experimentar melhor a vida não é um super poder, mas me faz sentir uma maravilha de mulher e até que, quem sabe, reconheçam e inventem um nome pra profissão que mais me realiza eu vou levando a vida nesse amadorismo meu, com direito a laços de amizade, vôos invisíveis ao mundo alheio e um certificado de pessoa super. Super melhor hoje do que ontem, super curiosa, observadora, palpiteira... rs rs
ps- Esse texto foi extraido de um antigo blog meu, mas gosto tanto dele que carreguei pra cá.
Wonder Womaaaaaaaaaaaaan!! :p