domingo, 30 de março de 2008

Sonhando


"E eu que achava que soninho era soneto
Mas não é não, é dois quartetos e dois tercetos
Quero sonhá-lo em cada vão momento
O pequeno som desse soneto
Se sento e leio fico sonolento
Se sono sonho a cada vão momento
Se sonho acaba fico rabugento
Quero sonhar o sono do soneto
Que infância boa àquela do soneto
De longos sonhos sem ressentimentos
De amor de colo e de acalento
Mas agora sigo junto ao vento
De braços dados feio um cumprimento
Nesse sonho nos meus aposentos"

quarta-feira, 26 de março de 2008

Reticências

"Arrumar a vida, pôr prateleiras na vontade e na ação.
Quero fazer isto agora, como sempre quis, com o mesmo resultado;
Mas que bom ter o propósito claro, firme só na clareza, de fazer qualquer coisa!

Vou fazer as malas para o Definitivo,
Organizar Álvaro de Campos,
E amanhã ficar na mesma coisa que antes de ontem — um antes de ontem que é sempre...
Sorrio do conhecimento antecipado da coisa-nenhuma que serei.
Sorrio ao menos; sempre é alguma coisa o sorrir...
Produtos românticos, nós todos...
E se não fôssemos produtos românticos, se calhar não seríamos nada.
Assim se faz a literatura...
Santos Deuses, assim até se faz a vida!

Os outros também são românticos,
Os outros também não realizam nada, e são ricos e pobres,
Os outros também levam a vida a olhar para as malas a arrumar,
Os outros também dormem ao lado dos papéis meio compostos,
Os outros também são eu.
Vendedeira da rua cantando o teu pregão como um hino inconsciente,
Rodinha dentada na relojoaria da economia política,
Mãe, presente ou futura, de mortos no descascar dos Impérios,
A tua voz chega-me como uma chamada a parte nenhuma, como o silêncio da vida...
Olho dos papéis que estou pensando em arrumar para a janela,
Por onde não vi a vendedeira que ouvi por ela,
E o meu sorriso, que ainda não acabara, inclui uma crítica metafisica.
Descri de todos os deuses diante de uma secretária por arrumar,
Fitei de frente todos os destinos pela distração de ouvir apregoando,
E o meu cansaço é um barco velho que apodrece na praia deserta,
E com esta imagem de qualquer outro poeta fecho a secretária e o poema...
Como um deus, não arrumei nem uma coisa nem outra..."

sábado, 22 de março de 2008

Prece

"Gosto quando me ama
Sem explicar muito bem
E deixa, jogados no chão,
Plurais da vida
Que não conjugamos
E o espasmo
De qualquer agradecimento.

Depois, te ver dormir
Como quem morre
Numa fotografia.
Como quem posa
Para embelezar o gesto
E fugir do gosto do acaso.

Nada é mais terno
Que o contraste da fronha
Com teus cabelos negros
E a revelação exata
De todos os meus medos
De te perder"

quinta-feira, 13 de março de 2008

Da crônica "o amor acaba"

"(...) uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba. "

sexta-feira, 7 de março de 2008

Muita saudade!!



Video pequeno, mas suficiente pra me fazer chorar de saudades das delícias que permeavam minha infância.

terça-feira, 4 de março de 2008

Eu gosto de xilofone.



Dá aquela idéia de musiquinha pra criança. Minhas lembranças de criança sempre me comovem. Acho que eu trago muito da doçura daquele tempo pq me encanto escancaradamente com as coisas mais "tolas" e pq me divirto com a firmeza daquela natureza infantil que não teme quando faz uma pergunta. Minha alma é "brincante". Ser assim é tão gostoso quanto empurrar alguém e sair correndo
(com o som do xilofone ao fundo).

A quoi ça sert l'amour?



A quoi ça sert, l’amour ?
On raconte toujours
Des histoires insensées
A quoi ça sert d’aimer ?

L’amour ne s’explique pas !
C’est une chose comme ça !
Qui vient on ne sait d’où
Et vous prend tout à coup.

Moi, j’ai entendu dire
Que l’amour fait souffrir,
Que l’amour fait pleurer,
A quoi ça sert d’aimer ?

L’amour, ça sert à quoi ?
A nous donner d’la joie
Avec des larmes aux yeux…
C’est triste et merveilleux !

Pourtant on dit souvent
Que l’amour est décevant
Qu’il y a un sur deux
Qui n’est jamais heureux…

Même quand on l’a perdu
L’amour qu’on a connu
Vous laisse un gout du miel -
L’amour c’est éternel !

Tout ça c’est très joli,
Mais quand tout est fini
Il ne vous reste rien
Qu’un immense chagrin…

Tout ce qui maintenant
Te semble déchirant
Demain, sera pour toi
Un souvenir de joie !

En somme, si j’ai compris,
Sans amour dans la vie,
Sans ses joies, ses chagrins,
On a vécu pour rien ?

Mais oui! Regarde-moi !
A chaque fois j’y crois !
Et j’y croirait toujours…
Ça sert à ça l’amour !

Mais toi, tu es le dernier !
Mais toi’ tu es le premier !
Avant toi y avait rien
Avec toi je suis bien !

C’est toi que je voulais !
C’est toi qu’il me fallait !
Toi que j’aimerais toujours…
Ça sert à ça l’amour !

sábado, 1 de março de 2008

Mar belo



Meu nome significa mar belo. Gosto dele.
Sou inconstante tal como as ondas que vão e vêm
Ora serena, ora agitada, entre tormentas e calmarias
tento ser navegável.
O que em mim flutua não é meu
Apenas passa
Me ofereço em ondas e espuma
me desfaço e refaço
Nem sempre belo, mas sempre mar
Mar de amor terno e eterno
que tenta, arrebenta
insiste e existe em mim.