
O palanque para os convidados está armado na Travessa dos Cataventos. Mario aproxima-se da multidão de milhares de pessoas, que, ao vê-lo, abre um corredor e começa a gritar o seu nome e a jogar papel picado. Mal escondendo a emoção, ele segue com seu passo trôpego amparado pela bengala até o palanque. Já estão todos lá, o governador, o prefeito, e outras autoridades, para a abertura oficial do maior centro cultural de Porto Alegre com sua programação de literatura, cinema, teatro, música, e distribuição de material didático e de pesquisa sobre o poeta. Enquanto aguarda sua vez de dizer algumas palavras, Mario tenta escutar os enfadonhos elogios anunciados pelas autoridades, mas é vencido pela vontade de isolar-se e ficar falando sozinho:
Meu bonde passa pelo Mercado
Mas o que há de bom mesmo não está à venda,
O que há de bom não custa nada.
Este momento de euforia é a flor da eternidade.
E essa minha alegria inclui também
minha tristeza...
De súbito, Mario é trazido de volta ao convívio do palanque quando um dos oradores pronuncia seu nome com mais veemência. Mario olha para o orador e acrescenta, por trás de um sorriso:
- a nossa tristeza...
Tu não sabias, meu companheiro de viagem?
Todos os bondes vão para o infinito!